Desde os primórdios da filosofia, grandes pensadores já questionavam a natureza da realidade e da identidade humana. Platão, em sua alegoria da caverna, sugeriu que vivemos em um mundo de sombras, projetado por condicionamentos que nos impedem de enxergar a verdade. Friedrich Nietzsche, por sua vez, criticou as estruturas que moldam a sociedade, argumentando que muitas das nossas crenças são impostas, e não escolhidas. Jiddu Krishnamurti, em sua abordagem radical, afirmava que dizia:
“Não é sinal de saúde estar bem ajustado a uma sociedade profundamente doente”.
A sociedade nos ensina desde a infância a obedecer antes de questionar e aceitar antes de duvidar. O sistema educacional, os meios de comunicação e as normas sociais moldam os nossos arquétipos e desejos, além dos nossos valores sem que percebamos absolutamente nada. Erich Fromm descreveu esse fenômeno como um “medo da liberdade”, no qual o indivíduo, diante da possibilidade de autonomia, prefere se refugiar em crenças e padrões pré-determinados, do que questionar o “status quo”.
Mas e se tudo o que acreditamos ser real não passasse de um roteiro escrito antes mesmo de nascermos? E se as nossas escolhas fossem, na verdade, meras respostas automatizadas a um condicionamento tão profundo que nem percebemos a sua existência? Carl Jung falava sobre o inconsciente coletivo, uma estrutura psicológica que nos impele a agir de acordo com padrões ancestrais e culturais, muitas vezes sem nenhuma consciência da sua influência. Nossos desejos, nossas ambições, nossos medos são realmente nossos ou são apenas reflexos do meio em que crescemos e recebemos a programação social?
A neurociência contemporânea sugere que grande parte das decisões que tomamos são processadas pelo cérebro antes mesmo de chegarem à nossa consciência. Estudos de Benjamin Libet indicam que a “vontade” surge no nível neural antes de ser percebida conscientemente, questionando a própria existência do livre-arbítrio. Isso significa que o que interpretamos como escolhas racionais podem ser, na verdade, o resultado de padrões pré-programados sutilmente por experiências passadas na educação social.
Se tudo é uma construção social e mental, então o que seria real? Sartre afirmava que “a liberdade reside na consciência da própria condição”. Para Viktor Frankl, sobrevivente do Holocausto e criador da logoterapia, mesmo em meio ao caos e à opressão, o ser humano tem a liberdade última, que é a escolha da própria atitude diante da realidade. Assim, a verdade não está em um conceito absoluto imposto por terceiros, mas na sua capacidade de perceber e reconstruir a nossa própria existência, libertando-nos das amarras invisíveis que nos prendem.
Sim, eu sei, que essa liberdade assusta e não foi à toa que o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard chamava essa sensação de “angústia existencial” – como uma espécie de vácuo deixado em nós quando percebemos que nada nos define além das nossas próprias escolhas. Para muitos, é bem mais cômodo permanecer dentro da estrutura conhecida, ainda que ilusória, do que encarar o abismo dessa incerteza aviltante.
O desafio, portanto, não é simplesmente reconhecer essa ilusão, mas atravessá-la, e isso exige um olhar mais crítico sobre as nossas crenças, um desprendimento do desejo por segurança absoluta e uma aceitação do desconhecido. Como Krishnamurti dizia, “a verdade é uma terra sem caminhos” – cabendo a cada indivíduo trilhá-la por si mesmo.
A pergunta que não quer calar aqui é: Você está realmente pronto para atravessar essa fronteira ou prefere continuar vivendo dentro da sua ilusão? A escolha, como sempre foi e continuará sendo somente sua, viver ou não viver na bolha.