Na verdade, estou afirmando que: Solidão é uma condição perceptiva muito comum nos dias atuais, pois remonta ao nascimento da cria humana condicionada a uma sensação atávica de total abandono vivenciada ao nível inconsciente no seu período gestacional, que poderia ter sido amenizada ou não pela relação simbiótica com a mãe no acolhimento desse feto com muito amor.
Podemos compreender o sentimento de solidão como uma ideia inata de isolamento sensorial do outro, uma falta empática entre a pessoa que deveria se sentir amada diante do seu objeto de desejo. E, o primeiro deles são os seus pais em diversas etapas de elaboração do ego imaturo da criança perdida na sua experiência infantil confusa. Não significa estar apenas sozinho(a), mas estar diante de um grande vazio interno, sentindo-se abandonado(a) por quem mais ama e, consequentemente, por outros, mais adiante, nessa escala de proximidade física e psíquica.
Acredito que aquilo que convencionamos chamar de “solidão” não é a mesma coisa que “isolamento social”, pois isto é algo que se refere à falta de interações sociais. Alguém pode até se sentir solitário em uma multidão, mas não se sentir solitário quando estar sozinho, isto é diferente pois depende da conexão direta e indireta, precisamos estabelecer vínculos emocionais mais profundos com o outro mais próximo e desejamos ser aceitos por ele e fazer parte de algo maior.
O sentimento real de solidão pode ser causado por uma variedade de fatores envolvendo mudanças na vida, tal como a perda de um ente querido, uma separação difícil, aquela aposentadoria repentina, mudança para um novo local de moradia, etc. Além disso, fatores psicológicos, tais como a baixa autoestima, ansiedade social, depressão e timidez, podem contribuir sensivelmente para uma experiência de solidão. As redes sociais também desempenham um forte papel ambivalente no processo de manifestação da solidão. Entendemos que ela causa diversos impactos significativos indiretos e diretos na saúde mental e física, pois os psicólogos tem observado nos pacientes dos consultórios um nível cada vez mais elevado de estresse, ansiedade e depressão quando há este fator presente na sua demanda. Além disso, a solidão crônica também está associada com doenças cardiovasculares, no comprometimento do sistema imunológico e, frequentemente, nos distúrbios do sono, sem esquecer que colabora para o aumento do consumo de álcool e drogas nos sujeitos com baixa autoestima.
Compreender a si mesmo(a) e as suas necessidades emocionais poderá ajudar bastante na identificação das etiologias que causam solidão e, encontrar formas mais inteligentes de enfrentar o problema dentro de si mesmo. Estou sempre orientando os meus pacientes no sentido de participar daquelas atividades que envolvem interações sociais, como clubes, grupos de interesse ou voluntariado, pois são situações que podem gerar uma sensação real de pertencimento aos grupos com interesses semelhantes aos seus.
Por fim, a solidão precisa ter um enfrentamento consciente e sério, pois produzem estados patológicos reais de depressão emocional ou ansiedade, mas precisam ser abordados o quanto antes, com a ajuda pontual de um psicólogo(a) dentro de um “setting terapêutico”, lembrando que a missão de equilibrar as relações imaginárias com a vida real, não será uma tarefa rápida e simples, é preciso método!
Hoje, a Psicologia moderna desempenha um papel de liderança na compreensão e na abordagem teórica desse fenômeno, oferecendo múltiplas estratégias científicas para uma pessoa poder lidar com este sentimento doloroso e manifestar um sentimento positivo de “solitude” que é algo saudável, gerando muito bem-estar emocional a reconhecer a importância das suas conexões sociais verdadeiras, especialmente consigo mesmo, ampliando o raio do autoconhecimento e, finalmente, culminar com a superação da solidão tóxica, patológica e mortal, construindo uma nova teia de relacionamentos de qualidade para a saúde mental de todos nós.