O ato de comprar sem uma necessidade real do comprador diante de uma oferta qualquer, representa um sintoma clássico da falta ou do vazio emocional, algo muito conhecido no mundo da psicologia moderna. Sem que venhamos a confundir isto com uma compra pontual e absolutamente importante para a vida do comprador consciente.
Mas, se ao invés disto, o que temos, é uma pessoa diante de um estímulo qualquer de oferta do mercado para produtos expostos nas vitrines das lojas físicas ou virtualmente na internet, a coisa é bem diferente. Neste caso, a mesma pessoa perderá o seu autocontrole e vai adquirir um bem qualquer apenas por impulso e, acredite em mim, na grande maioria dos casos clínicos, sem perceber que são vítimas fáceis e compulsivas dessas compras negativas, é porquê já foi capturada por ardilosos mecanismos psicológico do marketing global para produzir esses efeitos na sua mente frágil. Temos aqui um tipo de consumismo perverso vinculado ao gasto com produtos supérfluos que jamais serão usados na prática pelo comprador compulsivo, ainda quem tenham bastante utilidade.
Atualmente existem muitos pesquisadores psicólogos que apontam a responsabilidade da publicidade e da propaganda na construção obsessiva pelo ato de comprar sem pensar: “Compre agora, pois são as últimas unidades, o desconto acaba em 30 minutos, etc”. Alguns autores destacam a vinculação histórica na compra trivial por um ideal de perfeição imaginário na obtenção de status e poder. Em um passado não muito distante, houve em nossa sociedade atual, uma baixíssima capacidade de aquisição dos produtos ofertados para a população, era algo bem menor do que é hoje em dia e herdamos no inconsciente coletivo uma ideia inata de que somos pessoas muito melhores agora quando compramos algo. O ego sente-se validado e superior aqueles que não conseguem obter o seu objeto de desejo.
Sem falar que ainda podemos associar o ato de comprar com uma angústia ou uma ansiedade para obter uma satisfação passageira, podemos dizer até que se trata de uma compulsão emocional representando grandes perdas em termos de relacionamento interpessoal e, principalmente, da qualidade de vida desses indivíduos esvaziados. O consumismo pode representar uma parcela significativa de ações na vida dessas pessoas sobre os seus pensamentos vaidosos e confusos consigo mesmas, afetando a qualidade da sua saúde emocional, psicológica, social e financeira, gerando um sintoma qualquer que virá a lhe causar apenas mais dor e sofrimento ao perceberem que era tudo uma ilusão dos sentidos.
Atualmente, as crianças pobres e ricas imaginam que podem ter os mesmos brinquedos ou os adultos das mais diversas classes sociais que pensam poder ter as mesmas vontades e poder de compra dos mais abastados absorvendo os seus ícones de poder, algo que é reforçado na mídia com a apresentação de novos hábitos, que sempre são ostentados pelas celebridades do cinema, do futebol, das novelas, etc. Criando e reforçando novos valores simbólicos de comportamentos vazios para uma parte da população hipnotizada e levada a crer nesta falácia de igualdade com os seus ídolos midiáticos projetados através da simples aquisição dos mesmos produto ou objetos semelhantes de desejo para poder atingir um pseudo padrão de sucesso nas suas vidas que acreditam ser sem graça e simples demais, daí vem a ideia de investir cada vez mais além das suas posses em qualquer bem material para suprir a sua falta emocional que, geralmente, também está ligada as suas infâncias limitadas economicamente, ou pior, sem empatia alguma ou sem amor real dos seus pais na maioria dos casos observados.
Sugiro que você assista ao filme “Amor por contrato” (The Joneses), de Derrick Borte, que conta a história de uma família criada para impressionar e vender um estilo de vida ou se preferir um documentário intitulado “Criança, a alma do negócio”, dirigido por Estela Renner, que é mais um exemplo para começarmos a discutir perifericamente a questão do consumismo global, sob a ótica da psicologia que busca equilibrar este jogo de poder em benefício das suas vítimas que jazem pelo planeta inteiro.